O vento meio frio da madrugada tocando minha pele, lembrarei de tudo. E são essas horas que me trazem lembranças de conversas sobre conversas, ditos sobre os não ditos e os já ditos. E sob toda essa confusão mental está a mão, aquela mesma que acabou de largar um livro lido até o fim, e que agora procura abertura pela bermuda, que fabrica aberturas, que acha um membro murcho e o faz rijo. E deveria ser assim, não só com o pênis, mas com a alma. E que se foda! Foda-se toda má lembrança que faz da masturbação uma feliz válvula de escape para esperma e frustração, para esperma de frustração, para esperma frustrado, galado.
E nesse embate louco, as roupas se despedem do corpo e o corpo se veste de sensações. E a respiração fica cada vez mais rarefeita entre a boca e o tecido da colcha da cama, a pele desnuda toca o tecido macio e desgastado, como se a pele não estivesse em mesmo estado, e a cabeça do pênis que escapa à mão ligeira, encosta na madeira mal trabalhada da cama, porque me parece que só assim, tratando com aspereza uma cabeça sensível, é que se aprende a viver nesse mundo e se deixa de ser menino para ser algo próximo do dito homem: metade responsabilidade, metade sonhos mortos. E não venham me dizer que é possível sonhar com responsabilidade, nem sei quem poderia fazer isso, graças a Deus (talvez Ele possa).
E próximo do gozo, me passam pela cabeça todas as imagens que me suscitam dor, sim, dor, porque dor deve ser amor, não é? E quem me provoca dor, o faz por me amar, não é? E se não o for, que fique registrado aqui mesmo que só fiz essa comparação com intuito puramente de resgate da rima, pobre, diga-se de passagem. E já posso sentir aquele choque que começa na ponta do dedão do pé e sobe pelo corpo inteiro, vai até a cabeça e desce pela barriga até chegar ao escroto e de lá encontra caminho para fora pelo pênis. E há uma outra mão, porque sim, eu tenho duas, só citei uma até agora por puro descuido e tentativa de surpresa. E essa outra mão, tão amiga e mais amiga que muitas mãos que comigo não nasceram, ampara meu esperma tão cheio de sombras, que já parece negro na minha mão, como câncer saindo do buraco do pênis.
E a dor e a satisfação, e o vazio e o preenchimento, e o arrependimento e a gratidão, tudo isso passou pelo meu corpo, eriçou meu pelos, contraiu minhas faces, prensou meu coração, fez lágrimas em meus olhos e sorrisos na minha boca. Mas há um grito, e há um grito preso, mudo, enorme, poderoso e que não encontra lugar fora de mim. E se algum dia esse grito encontrar seu espaço, que tenha força suficiente. Que meu grito parta a minha carne.
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